Video games e o problema da dualidade moral


Em 19 de junho de 2020, a sequência do aclamado survival horror The Last of Us, chegou ao playstation 4.
Apesar de ja ter batido recordes de vendas (ser um dos jogos mais vendidos de 2020)¹, e ter angariado inúmeras resenhas positivas da crítica especializada²³⁴, o jogo também acumulou diversas avaliações extremamente negativas por parte de alguns fãs da franquia.

"Não me importo de o jogo ser bonito, a forma como trataram [redacted] foi desrespeitosa com os fãs", "Nota 0 por causa da agenda homossexual do jogo. Os fãs não se importam com a sexualidade de ninguém", "25 horas de uma história sem sentindo sobre vingança" são os comentários mais comuns em sites como o metacritics mas, o que de fato me inspirou a escrever esse texto, foi um texto do site polygon.

O link do text foi colocado nas referências, caso você queira ler. Mas, essencialmente, a autora do texto salienta a importância quase vital de histórias em que podemos facilmente identificar vilões e heróis, as famosas histórias de dualismo. A autora argumenta que os tempos já estão confusos e ambíguos o suficiente, não se fazendo necessária mais uma história onde não conseguimos devidamente identificar quem é o antagonista, o causador de toda malícia.

O Dualismo é uma concepção filosófica do mundo baseada na presença de dois princípios ou realidades opostas, irredutíveis, que não se confundem e não se misturam. Não sendo necessariamente um antagonismo mas sim uma oposição, tal qual luz e sombras.

Mas, se até fisicamente, há transições entre luz e sombras (penumbra e antumbra, ou seja, sombras parciais), é muito pouco prático aplicar conceitos tão rígidos de virtude e moral sobre mais de 7.8 x 10²¹ variações de pensamento (média diária de sinapses multiplicada pela população mundial). Significa que devemos abandonar conceitos virtuosos e deixar de lado a busca pela melhor versão de nós? Claro que não. Apenas devemos ter em mente que esses conceitos são objetivos em constante mudança, que podem ser atingindos ou não dependendo das suas ações mas, necessariamente, não significa que eles não são abstratos.

A autora justifica seu ponto com "os tempos estão muito ambíguos, não conseguimos identificar os vilões com certeza". Bom de fato, não há uma pessoa só responsável de todas as mazelas da sociedade que, após sua eliminação, o mundo viverá em perfeita paz e harmonia (como em Mario, jogo citado no texto). O que temos são diversas crenças, regras e leis que criam uma teia de aranha, um sistema. Não é só uma pessoa, é um sistema.

A autora cai em contradição pois a própria se encontra numa zona cinzenta porque, claro, os indivíduos que controlam e perpetuam o sistema claramente vil mas ainda assim, por mais odiosas que essas pessoas sejam, por mais violento que seja meu ódio por querer atribuir a culpa de todos os problemas do mundo que seriam resolvidos se esses indivíduos não existissem... Ainda vivemos num maldito sistema e, como diriam algumas obras distópicas relativamente superestimadas, ideias são à prova de balas e, quando ameaçadas, as pessoas violentamente tentaram proteger o sistema em que vivem. Então não acho que precisamos de dilemas dualistas em tempos como esses mas de mais histórias onde podemos ver as nuances e intricados de cada um, onde o indivíduo em si não é o inimigo, mas as circunstâncias.

Referências:
[1] https://www.npd.com/wps/portal/npd/us/news/top-10/video-games/
[2] https://www.metacritic.com/game/playstation-4/the-last-of-us-part-ii
[3] https://www.google.com/amp/s/www.theenemy.com.br/amp/playstation/criticas/the-last-of-us-parte-ii-review
[4] https://theboar.org/2020/07/the-last-of-us-2-review-unsettling-end-to-iconic-franchise-tlou2-joel-ellie-abby-ps4/
[5] https://www.polygon.com/platform/amp/2020/8/3/21352437/games-morality-last-of-of-us-bioshock-good-bad?__twitter_impression=true

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